A Zona de Convergência do Atlântico Sul, mais conhecida pela sigla ZCAS (pronunciada como “zacas”), é um fenômeno climático que desempenha um papel importante no regime de chuvas do Brasil.
Essa zona ampla e prolongada de convergência de umidade é responsável por gerar extensas áreas de chuva que podem durar vários dias consecutivos. Sua atuação afeta principalmente partes das regiões Norte, Centro-Oeste, Sudeste e, em algumas ocasiões, até o Nordeste. Embora raro, o Sul do país também pode sentir os efeitos da ZCAS em situações específicas.
A influência da ZCAS é significativa, especialmente durante o período mais chuvoso do ano. Em muitas áreas atingidas, o volume de chuva acumulado em um episódio desse fenômeno pode representar uma parcela expressiva do total esperado para todo o trimestre. Isso ocorre porque, quando a ZCAS se forma, ela cria uma faixa contínua de nuvens carregadas que atravessa o Brasil, indo desde o Norte até o Sudeste ou Nordeste, dependendo das condições climáticas.
O surgimento da ZCAS depende de uma interação complexa entre diferentes sistemas meteorológicos. Entre os fatores que contribuem para sua formação estão a presença de uma frente fria semi-estacionária na costa do Sudeste, um Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) no Nordeste, a Alta da Bolívia – um sistema de alta pressão atmosférica que atua a cerca de 10 km de altitude – e um cavado atmosférico, que é uma ondulação na circulação dos ventos em níveis intermediários da atmosfera, em torno de 5 km de altitude. Esses elementos precisam atuar em conjunto para criar as condições ideais para que a ZCAS se organize.
Fenômenos globais como El Niño e La Niña também desempenham um papel importante na formação da ZCAS. O El Niño, que ocorre devido ao aquecimento anormal das águas na região central e leste do Pacífico Equatorial, tende a dificultar a formação do fenômeno, especialmente porque interfere na organização da Alta da Bolívia, elemento essencial para a ZCAS. Ainda assim, o El Niño não impede totalmente sua formação, como demonstrado em janeiro de 2024, quando a ZCAS se formou mesmo sob a influência de um forte El Niño.
Já o La Niña, caracterizado pelo resfriamento anormal dessas mesmas águas, geralmente favorece o surgimento da ZCAS. Ele facilita a criação dos chamados “corredores de umidade” entre o Norte e o Sudeste, que são o embrião desse fenômeno.
Em períodos de neutralidade no Pacífico Equatorial, ou seja, sem a presença de El Niño ou La Niña, a formação da ZCAS também é favorecida, uma vez que não há grandes interferências na circulação dos ventos em diferentes níveis da atmosfera.
A ZCAS é, sem dúvida, um fenômeno meteorológico complexo e essencial para o regime de chuvas no Brasil. Sua atuação pode trazer alívio para regiões que dependem das chuvas para a agricultura, mas também pode causar transtornos devido ao volume elevado de precipitação em curtos períodos. Entender como ela se forma e o que influencia sua ocorrência é fundamental para prever e mitigar seus impactos.